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maio 14, 2011

Sonho disperso



Há dias em que dou por mim
a remar contra a maré das palavras
as sebentas preenchidas acumulam-se
na ausência de pássaros aquáticos
que anunciam um novo começo
levando uma impressão digital em asas outrora ausentes
saciam uma sede de sons na minha boca
fazendo perecer a crença simultaneamente vã e nobre
de que o amor é apenas alma
Apenas as horas estagnam
e nada mais flutua na minha cabeça
para além da vibração ao longe
de pássaros migrantes
retornando de um longínquo desconhecido
e corro tentando alcançá-los
na sombra fugidia de um verso
Mas a sua indiferença é anunciada
por entre a vasta floresta universal
onde as folhas caem sem pré-aviso ou cerimónia
e no meio de tentativas corajosas
tento absorver o eterno num sonho disperso
que se esvai por entre as densas lágrimas
Resta-me apenas aguardar por uma versão
impressa dos dias em lenços de assoar
enquanto aguardo de novo
o retorno de um bando colorido
que me encha os olhos de asas
E da vazante da maré
retiro as palavras cantadas
no entardecer de uma eternidade revelada
num gesto de funestas aves
derramando um cálice de vida
de uma caneta adormecida.


(Naf)
09/05/2011