No largo da aldeia
pacata e monótona
um carro parou
uma mulher,
cujo olhar a denunciava
esperava o amor
as donas de casa
regando seus vasos de flores
e alimentando gatos pretos
olhavam para a rua
bocas tapadas
cochichando
caladas
na escola ao lado
encostada ao portão
uma mulher recolhendo crianças
olhou para trás
gritando
em silêncio: aqui não és bem-vinda
por entre sussuros e olhares
um carro parou trazendo um homem
de apecto colorido. Ambos
saíram ao encontro um do outro
e se beijaram loucamente
tendo partido
em seguida
para parte incerta
e as mulheres
voltaram aos seus labores
omitindo as palavras
e perguntando a si mesmas
se algum dia
seriam beijadas assim
e olharam para as mãos sujas
do verde da hortaliça
que preparavam para a sopa
e limparam-nas aos aventais
traje único e diário
na dita aldeia
de uma mulher que se preze
(Naf)
(25/03/2011)