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março 25, 2011

Momento



No largo da aldeia
pacata e monótona
um carro parou

uma mulher,
cujo olhar a denunciava
esperava o amor

as donas de casa
regando seus vasos de flores
e alimentando gatos pretos
olhavam para a rua

bocas tapadas
cochichando
caladas

na escola ao lado
encostada ao portão
uma mulher recolhendo crianças
olhou para trás
gritando
em silêncio: aqui não és bem-vinda

por entre sussuros e olhares
um carro parou trazendo um homem
de apecto colorido. Ambos
saíram ao encontro um do outro
e se beijaram loucamente
tendo partido
em seguida
para parte incerta

e as mulheres
voltaram aos seus labores
omitindo as palavras
e perguntando a si mesmas
se algum dia
seriam beijadas assim

e olharam para as mãos sujas
do verde da hortaliça
que preparavam para a sopa

e limparam-nas aos aventais
traje único e diário
na dita aldeia
de uma mulher que se preze


(Naf)

 (25/03/2011)