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março 31, 2011

Caminho




caminhei por uma estrada
Cujo destino era incerto


levei comigo um poema
E o meu ser
nada mais

guardei as memórias no passado
que fechei à chave
um escudo
que protege as minhas emoções
das margens da viagem

e segui o caminho
sujeitando-me às minhas pernas
cansadas

pelo caminho vi duendes roxos
que a todo o custo me queriam retardar

corri para as margens
dos precipícios das borboletas

de canários à solta
no mundo
onde as ostras tinham dentes

os meus pés já cansados
caminhavam lentos
enquanto o horizonte fugia
e fugia
e fugia
e fugia
de mim

Ah! queria ser ave
mas no entanto
não tinha coragem de entregar as rédeas
a quem aprendeu a voar
melhor do que eu

levei comigo um poema
E o meu ser
nada mais

e fiz de cada montanha
o meu carrossel preferido
e de cada deserto
uma lição aprendida


(Naf)
30/03/2011

março 25, 2011

Convento


No convento existe um mistério
ainda por resolver

conta-se que nos seus subterrâneos
homens foram engolidos
infeliz imprudência

levantam-se boatos
exercitando a agilidade do imaginário do povo

apesar de nada se saber
a vila gosta de um bom mistério

explora-se o invulgar
mas só são achados morcegos e ratos do campo

fala-se em bichos gigantes, verdes amarelos
de todas as cores

por entre os seus assustadores esgotos imaginários
poucos são avistados

preferem abreviar suas histórias
escutam  a valsa dos carrilhões
mantendo fantasmas afastados


(Naf)
 (23/03/2011)

Momento



No largo da aldeia
pacata e monótona
um carro parou

uma mulher,
cujo olhar a denunciava
esperava o amor

as donas de casa
regando seus vasos de flores
e alimentando gatos pretos
olhavam para a rua

bocas tapadas
cochichando
caladas

na escola ao lado
encostada ao portão
uma mulher recolhendo crianças
olhou para trás
gritando
em silêncio: aqui não és bem-vinda

por entre sussuros e olhares
um carro parou trazendo um homem
de apecto colorido. Ambos
saíram ao encontro um do outro
e se beijaram loucamente
tendo partido
em seguida
para parte incerta

e as mulheres
voltaram aos seus labores
omitindo as palavras
e perguntando a si mesmas
se algum dia
seriam beijadas assim

e olharam para as mãos sujas
do verde da hortaliça
que preparavam para a sopa

e limparam-nas aos aventais
traje único e diário
na dita aldeia
de uma mulher que se preze


(Naf)

 (25/03/2011)

março 23, 2011

Fábula



Hoje acordei feliz
o sol faz desses milagres
fui à janela
vi que tudo brilhava
enquanto em órbita esperava
pelo folgar do som da flauta transversal
motivo de simulacros fabulosos
manifestação do irromper
duendes imaginários
fadas pousadas na minha mente
aceitei levarem-me pelo irradiar do improvável
que se confundia com o calor do sol quente
hoje deixo na cabeça ovos estrelados
pelo calor dos meus pensamentos
não são palavras,
apenas amostras infiéis e insuficientes 
daquilo que tantas vezes queremos dizer
se tudo pudesse ser como La Fontaine
formigas encontrariam o descanso merecido
e muitas lebres seriam deixadas para trás
o alojamento dos inquietos
insatisfeitos,
intrusos que injectam letras dançantes
o frenético  baile real na minha alma
que ao apelo de uma caneta deslizante na minha mão
saciam as suas sedes do intraduzível
fazem de mais um dia
um descoser desalinhado.



(Naf)
03/2011






março 22, 2011

Melodia com sabão


Enquanto pardais
pousam nos ninhos
pêndulos permanecem
erguidos
nas varandas
da vizinha ao lado
e as molas velhas
caem
de madeira
tão escura
cheiro de sabão no tanque
força de bruto arranque
que nos cobertores segura
levantando-os
altos vôos
esfrega-os fazendo rolos
pás pás faz na pedra
fonte de água e frescura
vozes de mulheres do campo
com as mãos escuras da terra
são lavadas ao som do vira
e em canções vão criando a prole
do povo que se lava no rio
o suor na pele brinca
entra em teimosia
com o que foi um dia
ruga de expressão num rosto
símbolo de sabedoria
alguém em gaiata me dizia
que ser velho é um posto.


(Naf)
03/2011

março 20, 2011

Botes


Botes
buzinam 
no mar
e embargados são
pelos embalos da vastidão
de deserto aquático
barcos sem pressa
enganando a saudade
contrariando a verdade
prestando favor de esperança
sendo o horizonte destino 
conselheiro
abrigo
mistério
sol
lâmpada ardente
que faz escurecer
encaminhando ao inevitável
da penumbra
onde as estrelas
e a lua quando se escondem
encontram e conversam
botes de histórias
que se confundem com o rir, chorar
disfarçando lágrimas com o suor do rosto
salgado
que roubas a frescura
deixada pelos lábios de uma mulher
histórias lembranças
viajam na vida
sacrifícios de boa medida
de quem não sabe se irá voltar
incertezas constantes
no coração magoam
com vida se aprende
fortalecem a alma.




(Naf)
03/2011

março 19, 2011

Equação



De mim roubaste um beijo e de seguida sorriste e o teu sorriso iluminou o mundo inteiro.
De tantas coisas falámos mas os nossos olhos e bocas triavam apenas o amor.
Contigo levaste o que falta de mim e o meu coração por ti foi cheio.
Dançaste alegre no meu jardim e uma flor colocaste no meio.
Tarde luminosa que em muito ultrapassa os nossos desejos pelo brilho do teu olhar.
O astro rei abafado.
Entre bocejos e pestanejos me integras no teu mundo só porque tu um beijo me soubeste roubar.
Um dia.
Uma tarde.
Doce lembrança.
O apelidámos nossa herança.
Será como uma moldura vazia retocada a cada dia.
Obra repleta de amor e de esperança.
Pintura a óleo aspirando ser obra de arte.
Vieste tão devagar arrancaste-me do vazio de não te ter.
Porção de mim.
Pote sedento.
Era o meu ser num palpitar.
Num segredo me esqueceste.
Não tenhas medo.
Como que revelada.
Enchendo medidas eleitas.
Dádivas comprovadas em nossa mão.
A nossa equação brota num só coração

(Naf)
03/2011





março 17, 2011

Romeu e Julieta

Lembras-me o que não conheço
tamanha ferida sentirás em ti
ou serás a lembrança do que vi
em ti repousam os meus segredos,
feliz daquele cujo ser se aloja
numa morada farta em fervor
tenda, estendida, esticada
onde jaz o nosso amor
oh lápide eterna dotada de mistério
assim sei que o nosso destino
o traçou, doce infinito que levou
o pó que em nós havia
nada mais tomará de nós
nem cansados estaremos pelas
noites longas de ternura
nem as lágrimas mesmo com
a sua porção salgada deslizando
do que restava de um corpo só
ainda firme podemos matar a sede
do beijo na tua fértil boca feita de pó.

(Naf)
03/2011

março 16, 2011

Sôfrego Solene

Quantas folhas rasgadas
começos inacabados,
momentos inspirados
tentativas de recomeço...
Quero com letras desenhar uma flor
saber a fórmula de interpretar
um coração fervilhando
para te dizer que te amo,
quantas mais palavras existem
que expressem esse amor por ti
levam-se dias, levam-se anos
olharei eu para trás e derreterei
de tristeza, pelo momento
possível deixado para trás,
pela prometida beleza infinita do amor,
sabes tu te entristecer por quem
vive apagado?
Serei eu capaz de amar quem não
tem outro lado...
Tu és meu doce sufoco, desejo que me apraz
o gozo razão de soluço, me desabrigas
não descontente isolada, corro sem jeito
Oh alma de dor consumida!
Tens-me golpeado, furtado o meu coração,
momento doce a teu lado
no jardim singelo, soletramos palavras
que tornamos irrefutáveis,
eternas e lacradas de graça,
melodias restabelecidas,
jamais destruídas,
pelo olhar de quem passa. 

(Naf)
02/2011




março 02, 2011

Conversas de nada



Espero-te à entrada chegas e enfim posso sorrir,
leva-me pela madrugada em conversas de nada
és um pouco tentado a continuar vazio
mas quando o calor se funde
se reúne
mais nada importa
assim é o querer de quem ama
partilha sem limite
o que tem
o que não tem
procura e dá
sorri por ricochete
vendo sorrisos deles se alimenta
num procurar constante de mais
de plenitude
infinito
incólume
tudo tenho
conversas que são nada
se apagarão da nossa história
libertando-me de te agradar
recuso a vã memória
protejo nosso sonho
protegendo-o com a minha espada.

(Naf)
02/2011