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setembro 24, 2011

Premonição

Dizem que apenas com um beijo
o amor floresce no deserto
e que um só beijo
levanta rochas gigantes
e derruba muros sólidos
e proscritos. O teu beijo faz-me navegar
em oceanos desconhecidos
subir ao espaço vazio
de mim. No beijo encontrarmo-nos entre as nuvens que nos acolhem
o coração.
Espero-te, chamo-te
em silêncio. Pelo clamor da pele
venceremos juntos
o tempo.
E faremos uma ode ao casulo da boca dançante
entreaberta das profundezas da vida
comeremos do prato palpitante e na sua seiva
nos será submissa a esfera de todos
os globos ocultos
para sempre.

(NAF)
23/09/11

danças telepáticas

és um rebento de flor
silvestre na minha boca
ao proferir o teu nome
o meu coração floresce em abundância
nunca conhecida antes pelo meu peito
sinto-te
aqui do meu lado
no mesmo tempo e espaço do par renascido
da mesma terra
como se os muros da distância caíssem
ao mover das nossas prosas
sou ninfa em tua boca essa que me ressuscita
e na grandiosa leveza do vento voas até mim
num brinde em odor de pétalas em êxtase,
caule fertilizado cadência certa cumprida
inadiável soluço do ventre
aos olhos oleados nas danças telepáticas do silêncio
de amar e ser amada de
corpo e alma por inteiro

(NAF)
21/09/11

em papel lenço ou balança

tantas ou nenhuma 
são as perguntas
que se formam como nuvem
quando paro na falésia
dos sonhos dispersos
são tantas as lembranças
e nenhumas estão contidas
em papel lenço ou balança
em que possa tocar
cheirar ou até mesmo soprar
pelo vento e levar-me até ao passado
rompido pelo substantivo do céu
o mesmo que nos uniu 
e enquanto degusto esta prova
inquestionável palpita o meu beijo perdido
nas formas que arregaço os teus olhos
quando
os meus seios por ti chamavam
e o meu segredo
era doce derretido
entre as tuas mãos

(NAF)
20/09/11 

setembro 18, 2011

agrados sinuosos

amanhã
vou dormir
por hoje enxugo e partindo
irei vencer o sono
que me faz balançar
amanhã irei crescer
agarrada às saias
longas e barbas por fazer
da minha mistura de ingredientes
naturais das ideias de sempre
e deixarei as vestes rasgadas
sonos ínfimos e preces canhotas
de lentos enjoos agrados sinuosos
que se esvaiem quando deito a cabeça
nas nuvens e me quero demorar
de cabeça oca
como malga que abranda ao som do pingo anunciado
entre dois pensamentos gastos
pergunto-me
onde está a sensual leveza de mim
quando o sol se deita
nas cordas da alma livre
despida

(NAF)
16/09/11

setembro 13, 2011

o que mais dói

o que mais dói
é ouvir de novo as palavras
ao longe que se provaram ocas
e ter de acolher a pintura de um quadro
só meu sem sombras de nós
o que mais dói
é rejeitar todos os sonhos
e fazê-los vencer a maratona
do esquecimento
guardar a lembrança dos sorrisos
e dizer adeus
mais uma vez
pela última vez

(NAF)
13/09/11

fio de mim

Farei de ti
riacho na minha mão
Embora seques
aos raios de sol
Que abrasam
Os teus movimentos
solitários
Um fio de mim
Correrá constante
Na tua boca
Quando chamares
O meu nome

(NAF)
13/09/11

matéria sanguínea

eu podia dizer-te
amor
e voar até nós
ou podia reconfortar-me
na esperança de um segredo
fosco sem matéria sanguínea
e parada
contemplar-te

(NAF)
12/09/11

setembro 10, 2011

abraço profundo

Quando te vi chegar
A pressa por ela se dissipou
tão suave caiu em tenda desfeita batida pelos teus braços 
suspensos em meu regaço que te sorria no olhar
o sabor aguardado desde que o sopro a ele mesmo
se fez e me abriu para a vida, do colo de minha mãe
já nada me sobra ante uma desconcertante entrega
de dedos quentes que se tocam em espaço neutro
um momento, movimento, sabor
côdea degustada da nossa carne
num só abraço
profundo

(NAF)
09/09/11 

pétalas

Disseste
Que o meu nome
Seria tatuado a pétalas
No teu coração
E que valeria esperar
pelos teus passos ao longe
Ainda que não viesses
um dia e outro disseste
Amor
Sem que uma letra brotasse
De fora para dentro
Da íris estonteante
sedenta do meu sorriso
e que outros luares existem
para além de um certo movido
e rompante do que os meus olhos quando pela manhã
se abrem mais uma vez
e outra vez
pela primeira vez
sem nós
Despertam

(NAF)
08/09/11

setembro 07, 2011

rosa azul


na dúvida
pára
não te mexas
e os calos da tua língua
sairão
e ao encontro 
do pensamento
gratuito
de uma rosa azul
os teus sonhos
voltarão a ti

(NAF)
07/09/11

Marcha Lenta

Tenho visto ultimamente
Que o rio corre mais devagar
Nos dedos junto ao chão lavrado
E as aves de retorno aos ninhos
Se levantam cada vez mais alto
Procurando o sossego
E nas folhagens silêncio
Tenho visto que as ideias e as palavras
Já não cabem no teu mundo
E em marcha lenta são-me retiradas
As vagas constantes de alegria
Que enérgicas batem asas para longe
Há que voltar ao porto de abrigo
Sem prazo limite nem esconderijo
Apenas um estilhaço de ti escondido
bem fundo 
No meu coração

(NAF)
05/09/11 

setembro 04, 2011

escravos da monotonia


Número registo
sondagem porcentagem
e muitos outros cálculos
Eu sou
Nos bolsos de quem no topo
entrega deveres aos escravos da monotonia
São frescos senhor são restolho embalado
no centro de quem aspira a centro do mundo
Levanto a bandeira da voz
que se agita nos meus sonhos e esfrego-a nos sonhos
de quem trabalha e não vive mas espera
sujeito ao negativar do seu número
Posto caído entornado nas lágrimas de um abraço
prometido vezes e vezes sem conta
às necessidades das bocas lá de casa
Réstias são entornadas em silêncio
de transtorno por uma vida
Vazia

(NAF)
01/09/11

pássaro azul


Tu
Desvias o teu coração
Da luz
E nos teus olhos
As pestanas se alimentam
De sombras inacabadas
Sobrepondo o que tentas ver
Sobras essenciais
Dos despojos da vida
Tu que ensinas o amor
Sem que dele nada saibas
E enlaças o teu cordão
Na face lavada fria
De uma tarde, uma noite
Um dia
Uma vida
Inteira
Sem mim
Tu que não dizes sim
Ao pássaro azul poisado no galho
Com seus olhos presos em ti
E que jamais voará
Sem que as bagas
Saiam da tua boca
Seca, tu que me vestes
De perfume sem que os ombros descaiam
Na angústia
E me levantas na tempestade
Sem que as ondas me derrubem
Sorte ou paixão essa de tu te dares
Não importa
Nem as dúvidas
Me fazem deixar de te ver
Sem mim
mas vivo

(NAF)
31/08/11

em que me deito já nem o uivo do vento


Onde estão
as tuas mãos
aquelas mesmas
que me tiraram de um poço
fundo escuro.
Em que apenas os teus murmúrios
eram ouvidos. A minha melodia estás seca e nos bancos
em que me deito já nem o uivo do vento
me arrepia.
Solta-me.
Solta-me,
atento!
E faz-me ultrapassar esse hino
de mim mesma.
Que de sol e mar
apenas o sôfrego e o desalento
são castas reduzidas ao
meu pescoço pêndulo.
E uns lábios que não gritam
de uma gente
que não se sabe guiar
pelo silêncio

(NAF)
29/08/11

espelhos da ignorância


dois três dias
e nada acontece
no depósito do tempo
encoberto 
e os filhos da
fada do lar
não acordam
deste sono profundo
herança deposta em seus
ossos dos que partiram
a sós e sem sede
nem objectivo real
transparente em seus olhos
são consumidos
pelos espelhos
da ignorância


(NAF)
26/07/11

a espera

sempre antecede
uma espera
a um culminar desejado


teço um cesto
onde o sim, não e talvez
são parte de um conteúdo
desconhecido


e o coração acelera 
pelo final da rotação dos ponteiros


que ao invés de caminharem
deitam-se
num lento contratempo


contrariando 
os batimentos acelerados
deste músculo
exclusivo


de um ponto no tempo
em que os nossos olhos
se encontrarão de novo


no beijo


(NAF)
23/07/11 

se me deixares voar



sou uma ilha
no meio 
de tantas outras


um navio em alto mar
de porto
em porto
sem horizonte
em passos lentos


mas não sou
o sinal de fumo
que avistas da tua íris


guardo-te comigo
para onde quer que vás
se me deixares voar


sem ti


(NAF)
28/06/11