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agosto 24, 2011
a chama
e é assim
que me tiras o céu
e me levantas nessa moínha
em que os teus conceitos se enlaçam
na tampa que me rasga o silêncio
e é assim que me vês
sem norte nem fado
nem corpo oculto
levantando os ritos sensatos
dos calados
fosse doutro modo
fosse doutra estirpe
aquela em que os teus olhos
em erupção tornassem
a ver o meu ventre
encontrassem o modo
em que nasci
crivo perpétuo
dos desassossegos
palpitantes
entre duas flores queimadas
(NAF)
22/08/11
Tu
Tu existes
se andas
com a cabeça nas nuvens
e os pés nos olhos
ou se
elevas a voz aos montes
e uma mão fechada tens em silêncio
para a boca faminta, tu
guarda para ti os desejos
de uma calçada sem sangue, tu
de um coração sem estilhaços
dentro e fora do teu quarto
existe uma página em branco, tu
desenhada pelo teu colo
soletrada pela tua boca
rompendo a tua liberdade
o homem só sonha
quando Tu acordares
(NAF)
19/08/11
se andas
com a cabeça nas nuvens
e os pés nos olhos
ou se
elevas a voz aos montes
e uma mão fechada tens em silêncio
para a boca faminta, tu
guarda para ti os desejos
de uma calçada sem sangue, tu
de um coração sem estilhaços
dentro e fora do teu quarto
existe uma página em branco, tu
desenhada pelo teu colo
soletrada pela tua boca
rompendo a tua liberdade
o homem só sonha
quando Tu acordares
(NAF)
19/08/11
outro dia
este é o dia
é o dia de agradecer
mais uma vez
que levanto os pés da cama
num chão trémulo de pratos vazios
procurar sobreviventes
do passatempo moderno
sem ver o outro lado da margem submersa
sem encontrar o vento no arrastão dos choros
nem abrir as janelas
das pálpebras fingidas
e deitar-me de novo
sobre as feridas
dos cansados
(NAF)
19/08/11
agosto 23, 2011
desertos áridos
mais um dia
mais um dia em que me deito
no lodo de um silêncio
mais um dia em que os gritos dos surdos
se elevam na minha voz
sem resposta à vista
Nem cravos vermelhos no peito
sons de uma mímica expressão
das armas depostas, camufladas
em que os sopros dos que partiram
são o lençol em que seco
as gotas salgadas queimando a terra gasta
mais um dia em que as ondas
se desfazem por certo
no meu regaço cansado
E um dia vai
E outro vem
sem que a trombeta da liberdade se canse
e volte a correr atrás das estrelas do céu
caídas que a aguardam
nos desertos áridos
em que um dia é sempre demasiado longo
para esperar
(NAF)
17/08/11
mais um dia em que me deito
no lodo de um silêncio
mais um dia em que os gritos dos surdos
se elevam na minha voz
sem resposta à vista
Nem cravos vermelhos no peito
sons de uma mímica expressão
das armas depostas, camufladas
em que os sopros dos que partiram
são o lençol em que seco
as gotas salgadas queimando a terra gasta
mais um dia em que as ondas
se desfazem por certo
no meu regaço cansado
E um dia vai
E outro vem
sem que a trombeta da liberdade se canse
e volte a correr atrás das estrelas do céu
caídas que a aguardam
nos desertos áridos
em que um dia é sempre demasiado longo
para esperar
(NAF)
17/08/11
audazes turbulências
há um respingar
do silêncio
interrompido
no meu útero gemendo
alheio às chamas
de audazes turbulências
capazes do senão entre dois dedos
enfeitados e sobremaneira convertidos
em cores do arco íris
para qual forma nasceram senão
na segurança de um olho de vida
na ponta do labutado
prazer diário
de assentar o corpo ao fim
do dia seguro no ventre
do pão que hoje trazes
pelos teus lábios seguro
aperta-o pois
sem dó
e limpa-o em fases distintas
enquanto o cheiro for teu
na pele que transportas
mexe-a
para que não morra
para que seja nossa
a tua
solidão
(NAF)
16/08/11
do silêncio
interrompido
no meu útero gemendo
alheio às chamas
de audazes turbulências
capazes do senão entre dois dedos
enfeitados e sobremaneira convertidos
em cores do arco íris
para qual forma nasceram senão
na segurança de um olho de vida
na ponta do labutado
prazer diário
de assentar o corpo ao fim
do dia seguro no ventre
do pão que hoje trazes
pelos teus lábios seguro
aperta-o pois
sem dó
e limpa-o em fases distintas
enquanto o cheiro for teu
na pele que transportas
mexe-a
para que não morra
para que seja nossa
a tua
solidão
(NAF)
16/08/11
agosto 19, 2011
quisera eu
quisera eu
banhar-me nas tuas águas
sem molhar a alma
que me dói
e saber o quanto és doce
sem nas minhas papilas
absorver a tua casca rugosa
quisera manter-me à superfície
e levantar-me da poeira
que me sopra aos ouvidos
em um só trago
que tu sentes
em prosa nas minhas mãos
são lançados os palmos do descrédito
que me açoitam os lábios
em gemido afastado de mim
quantos porquês serão amanhã
senão ouvir o vento
que me roubou
a marcha exclusiva
dos silêncios
puros
(NAF)
12/08/11
banhar-me nas tuas águas
sem molhar a alma
que me dói
e saber o quanto és doce
sem nas minhas papilas
absorver a tua casca rugosa
quisera manter-me à superfície
e levantar-me da poeira
que me sopra aos ouvidos
em um só trago
que tu sentes
em prosa nas minhas mãos
são lançados os palmos do descrédito
que me açoitam os lábios
em gemido afastado de mim
quantos porquês serão amanhã
senão ouvir o vento
que me roubou
a marcha exclusiva
dos silêncios
puros
(NAF)
12/08/11
espinhos
a vida
nem sempre
são rosas
quando os espinhos
se nos atravessam
na garganta
e a esperança
é palavra seca
fora do baralho
a espera
pelo momento final
é revista vezes sem conta
e a dor
companheira
das horas submersas
felizmente
aprendemos sempre
algo que nos surpreende
quanto mais não seja
quantas lágrimas cabem
numa garrafa
de soro
e a vida continua
(NAF)
11/08/11
agosto 09, 2011
fardo de palha
Perguntei
Ao tempo
se nos dias que me restam
voltará a nascer
o que não quis
ser
Foram-se os dias em pleno
inverno
sereno
Outros ainda na boca
arrumados
aprumados
Mas o que me resta
é o desejo
o ensejo
De deixar o tempo
Fazer
refazer
O que eu não quis
ser
: fardo de palha
(NAF)
09/08/11
agosto 06, 2011
gente de carne
a minha vida
é feita
de pequenos gestos quentes
e palavras
de açúcar triadas
e o meu sorriso
pólen
que em terreno baldio
não germina
sou feita
da memória de lágrimas
pedagógicas
da mão de um pai
ausente
nos meus cabelos
e dos braços de um amigo
tantas vezes
em lugar incerto
no momento errado
a minha vida
é feita de gente de carne
com os pés na terra
e o coração
na boca
(NAF)
06/08/11
aos montes
quão bom seria
que os nossos pés
andassem sempre
uns palmos acima
do chão
leves
um balão de ar quente
que sobe e não se faz apressado
agita e não se faz rogado
onde as nuvens se encontram
e as aves habitam
um pouco mais perto
do leito de um deus
que não nos deu asas
mas olhos
para voar
(NAF)
04/08/11
agosto 04, 2011
sonho azul
é fácil respirar
quando os nossos olhos
se cruzam
em
queda
livre
e juntos dançamos
ao mesmo ritmo
não há certezas
e de novo me questiono
se o amor
nasce nos abraços
sacrifícios
do adeus
ou apenas porque
as nossas mãos se entrelaçam
no sonho nocturno
proibido
(NAF)
04/08/11
boca descalça
vezes sem conta
tento flutuar
acima do real vínculo
que me faz pisar o chão
no lençol de memórias de mim
embrulho um sol apagado
que tenta com a fagulha que resta
reacender o grito do fogo
pela dança do riso
e se pega, contamina
pelas calçadas onde os meus sapatos
despedem a sola
que se rompe, renova
renova e rompe
e as palavras esculpidas descansam
na liteira
aguardando
o pousar do meu peso
sobre a minha boca sem nós
descalça
(NAF)
03/08/11
agosto 03, 2011
o outro lado da lua
eu sou uma pomba
caduca
na lua que não se mostra
levanto-me
poiso
renasço
esqueço
sem remorso
o fruto doce
das sobras de alegria
não me basta
quero voltar a voar
e não me lembrar
onde pôr os pés
quero vendavais
onde se arraste
o ilusório
sabor das quedas
rente ao tronco,
húmus da terra
que bem me quer
(NAF)
10/07/11
intimidade
eu não tenho
estes olhos ancorados
no sonho
nem tão pouco anseio
pelo poisar das aves
no meu queixoninho
e não sei o que esperar
das madrugadas
embrulhadas em promessas
apenas cumpridas
sobre o meu futuro pó
e não guardo nos bolsos
o querer de um amanhecer
que não surge
sem lágrimas letárgicas
ostentadas no meu travesseiro
apenas sei que no cofre que guardo
no mais profundo eu
aquele que não avisto
quando dos altos céus
me salpicas nada do que sou
realmente importa
(NAF)
01/08/11
Pintura
(Solidão e intimidade - Antoni Music - 1996)
notícias do vento
vens tarde
vento e tarde
és tragado
pela silhueta
que te espera
negra, pálida
semente de flor
embalada
nos teus braços
trazendo
no cio
a esperança longínqua
e notícias
de vida ou odor
de quem a deixa para trás
espalhas na terra
a dor que se desfaz
em rodopio
(NAF)
30/07/11
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