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abril 23, 2011

Dar



Dar
é um passo
dirigido em sorriso
ou pranto, abraço
no aperto da cruz

que nos acorda
e liberta para o
momento real
em que o tempo dispendido
nos leva para Marte ou Plutão
pois Gólgota É tão longe
para amar

é melhor nem pensar
em rasgar o coração
sem razão
e descalçar os Genuine Leather
render-me aos pés em sangue
procurando sobreviventes
da indiferença humana

e apenas por um dia
oferecer o último suspiro
a uma mão estendida na rua Amarga
dar é dizer sem palavras:
Toma um Pedaço da minha vida



(Naf)
13/04/2011

O Odor de um Livro




sinto o seu cheiro
como forasteiro recém chegado
procurando alojamento
inspiro o odor viciante
e parto em digressão
sou eremita abstinente
em terra distante

desbravo clássicos
onde Dumas molha a pena
à guarda do Luzeiro
da mente que não se apaga

renegando ao ardor dos meus olhos
relato em alta voz
o que apenas alcanço
sonhando

fecho um livro e sinto
o seu cheiro amarelo
penetrando
num cérebro pueril
viajando ao século XIX


(Naf)
18/04/2011

abril 14, 2011

O Tempo e o Modo




Corro apressado
e penso alcançar a liberdade
Tropeço na ampulheta de pulso
limpando o carrasco do tempo
com a mão suada
e respiro fundo

de nada tiro proveito
se a consulta de cirurgia à cegueira do ontem
previamente marcada para amanhã
for dona de mim
E sempre posso recusar

nada poderei fazer na minha escravidão
Como arqueiro sem norte atiro flechas para lado nenhum
e aguardo que consigam o bilhete de volta
mas colaboro com a colheita intemporal
deixando que os ponteiros lavrem o que o Divino me concedeu

acolho o imprevisto de rostos famintos
e desfigurados pela peste depressiva
Tantas vezes curada com um bom abraço

O responsável de uma grande produção de carne animada
a exibir na plateia de anjos mais próxima
tem tentado ultimamente premiar-me com um galardão
embora lhe tenha já avisado que prefiro manter afastadas da
mesa de cabeceira caixas de valium, lexotan e outros da mesma espécie.


(Naf)
10/04/2011

abril 13, 2011

no Vazio




Existe em mim
mulher
força bruta
Caterpillar, tracção às quatro
derrapagem

buracos negros
seduções
E ouço as quatro estações de Vivaldi
E acordo com elas agarradas ao meu ventre
sedento

impregnadas de hormonas
latentes do dia anterior
e um néctar secreto de frutos
com cheiro a flores silvestres

corpo e cálice de vitória
cúmulo do ego Tradicionalmente Proibido
e um desprezo assumido
pelo chá das cinco
e outras coisas mais
acompanhado pelas bocas pálidas
das senhoras de Cascais

um depósito,
triagem de ternura
que se espalha ao vento
com cânticos de amor rindo-se sem reservas
de coisa nenhuma

tenho a dor do parto
do óvulo que se renova
do osso que me dói

um centro da terra por explorar
um Júlio Verne
que tarda
e uma folha de papel em branco
que contrasta com borrões de cinza
e rascunhos
rascunhos
de mim

Sou uma jaula aberta
de pernas fechadas
cheias de fertilidade
no vazio


(Naf)

(13/04/2011)

abril 08, 2011

Barco sem remos



Houve mais luz esta tarde 
Na árvore Perto do barco abandonado
Onde o rio parou para sempre

as águas agitadas
se acalmaram à tua chegada

e os átomos fizeram tréguas
estabelecendo a paz mundial
em carreiro de formigas

Barco sem remos
E o chão cúmplice de suspiros
instrutores do amor

E todas as máscaras caem
ao som da alegria de Deus

a apetência do abraço
onde tudo se move ao contrário
não nos denuncia

Hum! Se eles soubessem
Do sal que trocámos na pele
ao tentarmos apanhar as gaivotas

falámos de tantas coisas
lembras-te?
E o canto de um pássaro migrador
que nos perseguia
Foi tema de conversa

indagámos se o seu chilrear
seria fome, perigo
sedução
ou porque estávamos ali

Estávamos
barco sem remos




(Naf)
08/04/2011

abril 05, 2011

Hipotético ou talvez não


Hipotético é o sentido
Da vida em que me deito

novo dia e poente
se enlaçam
como Casal perfeito

logótipo improvável
da ignorância
voluntária recorrente

Murmuram anjos aleatórios
Compenetrados na lúgubre
função concedida do segredo
intrínseco ao Homo Sapiens
por tempo indeterminado
o propósito genético
espalha partículas
do imperceptível
analógico e comprovado

e à mesa os discursos
disparatados mas imprescindíveis

tentou assim Da Vinci na sua sorte
e Darwin nas suas convicções
angariou vozes rocas
de horizontes limitados
acompanhados de conhaque


terras firmes da mente
impulsionam
altos voos
e no hipotético de hoje
repousaremos amanhã
ao celebrarmos novas rodas
e habitarmos em casas
novas
no Céu.


(Nsf)
05/04/2011

Povoação



Povoação Sem Nome
teus amores
são como rio
que não seca

cascata melódica
onde ninfas anónimas
habitam

dominas tua fonte
cujas gotas
agradam o forasteiro

és muralha no oceano
castelo elevado
no horizonte
és Shakespeare
Baudelaire
és Gorki
e Andrade
és Goethe
e Espanca
és olhos de falcão
que irrompem sonhos turvos
e cai a cortina ciciante,
e as nuvens rodopiam

teu cume é soalho
de hóspedes itinerantes
onde cores e pássaros
exuberantes
se rendem

lugarejo de letras
acentos e cenas do ontem
em nota de rodapé

páginas incutidas
soltam-se no acto
do conhecimento Divino

Povoação
simultânea a tantas outras
contudo
Património longínquo
Do poeta


(Naf)
05/04/2011

abril 02, 2011

Monção




"O meu amado desceu ao seu jardim
aos canteiros de bálsamo, para se
alimentar nos jardins e para colher
os lírios.
Eu sou do meu amado, e o meu amado
... é meu; ele se alimenta entre os lírios."
(Cantares 6:2-3)



Senhor
chamas-me jardim
sendo eu deserto árido?

Tu és soberano
permite que em Ti os meus lírios
saciem a sede de que padecem
o canteiro brotará odores coloridos
será renovo ao som das águas
tempo de monção anunciada virá
e dás o fôlego de amor
trazendo-me à vida

chamas-me pelo nome
que me deste e me acolhes
à Tua formosura
o amanhã esse, é somente Teu
os canteiros de lírios
de que Tu te alimentas
estão ansiando por Ti
então sei, é tempo de nova colheita

Tu és meu, eu sou tua.


(Naf)

 (02/04/2011)

abril 01, 2011

A gravata


A gravata dantes era
marca de poder e bom gosto
hoje se associa ao
descrédito
do que faz dela seu posto
doutor da lei
Da carne
Ou do nada
não terá ele uma gravata guardada?
Dela estão cheios os roupeiros
anti-traças à direita
E à esquerda naftalina
Ao centro
e também no parlamento
deputados sem gravata
é coisa inadmissível
assim se distinguem os bons políticos
é claro!
Agora,
Agora Já ninguém usa gravata!
os nós de forca bem apertados
fazem as delícias de criativos inspirados
amarrado ele é sem saber
às modas e tendências
e o designer endinheirado vende
acessório de luxo ou não
Dela se faz colecção
mas qual é o teu fado
se não souberes dizer: Não!

Já não se usa gravata! Pois não?
(um tipo rico a pensar que é dono do mundo, ridículo).

(Naf)
01/04/2011