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dezembro 30, 2011

peregrinação

levaram
as densas luzes
aos quatro cantos
do mundo

transportaram
açúcar, gelo e
a salvação
gratuita

encontraram
leões, coroas e outras
poças de lodo
limparam-nas
mergulharam-se
nelas
sem sabão, toalha
e escova de dentes

riram-se
das grades fechadas
cadeias floridas
e
seguiram em frente
olhando para
a eternidade
comum

alheios
aos espinhos


(NAF)
30/12/11

dezembro 26, 2011

__parágrafo


rasgo o
rascunho esborratado
que entope o grito
das minhas veias

dos dias em que somo o
gatinhar de minutos vazios
prevendo
um só passo curto

desisto das
palavras que enrolam
esperneiam
sacodem
sobrevivem
insistem como peçonha
nos atalhos
fixos beco da língua

recuso da esperança
é quando dói e arde
sangra
e cura a alma

e, se antes o mundo não acabar

talvez rasgue
as sombras e fantasmas
de um arco íris demasiadamente
brilhante

__despido de margens


(NAF)
23/12/11

A chegada


E eis que se faz tarde
na luz já a carne, se une

aos mistérios de uma cria
de gente ainda por nascer

no sangue
uma célula de adorno

à alma
todos nós


(NAF)
15/12/11

Natal 2011

dezembro 17, 2011

quadro de ardósia

lição
aprendida
e sustento o teu beijo
(meu)
cunhado na face abóbada

adorno do magma

em ferro fundido lacrado e selado da tua ausência
no tempo finito

sem lugares agrestes
nem côncavos
da lua vibrante

um leito
feito dos nossos olhos de pó

e de vento


(NAF)
17/12/11

dezembro 16, 2011

O voo

vejo-te
vejo-te nas árvores
em plena gestação lunar
vejo-te
nos gansos e nas águias
nos penhascos das montanhas
na nuvem,
que passa
viajante de algodão doce
por entre o tecto azul
cheio de ti
cheio de nós
vejo-te
por cima das nossas cabeças
na erva daninha
toca de coelho
e vejo-te
nos carris da carroça empoeirada
chuva de lágrimas,
tuas, minhas,
nossas
que enchem o oceano
inteiro
do sopro da tua alegria
oxigénio de mim
vejo-te
e nem por isso desfoco a
lente, o teu coração
na minha sombra
curta


(NAF)
14/12/11

a queda

Qual
folhinhas de outono
c
a
i
o
nos teus braços
como
confetis
coloridos
rumo

ao norte

sou tua
sou minha
sou livre


(NAF)
13/12/11

reticências

ao roncar das sereias
o portal abriu-se
leve denso linear
dos lençóis
azuis
onde me deito
e o chocolate quente
dissolvido nos lábios
misturou-se com
o toque do despertador

entre as seis da manhã
e um poema(:
...inacabado


(NAF)
12/12/11

dezembro 12, 2011

Eva

eis que rodopio
entre o cardo
e a rosa

alongo-me
esperneio
vigio
sem que a
lupa
da eternidade
se abrigue

sou musa
e hóspede
de um espelho
vazio
de mim


(NAF)
12/12/11

antes princesa
sem reino

que sino sem som
ou flor sem odor

pastora
de pirilampos

nas nuvens
não!

enquanto viver

já não preciso ter esperança
em mim pelos vastos caminhos que percorri
hoje sou vaso
e no fundo uma raiz sem seiva
guardada entornada estendida
para que todos ou nenhum saibam
de onde vim
tenho em mim o segredo
da esperança
enquanto viver
já nada sobra do enlace demorado
das horas vagas à espera dos cantos vazios
e tormentos
pela resposta que enfim tardava
pelos atalhos se fazendo longos
já não preciso embarcar nos molhos de sonhos
que me obrigam a voar
sou raio sem destino
brilho sem luz
estrela cadente
rompo o espaço e descubro
o nada
infinito


(NAF)
11/12/11

eclipse

em acção
longe do celeiro
da colheita

deitados
nas lonas
do tempo

fartos

e um sossego
ultimato

pára o sol
já não há
polpa
frio

neste arbusto
de nós
moído


(NAF)
11/12/11

frutos da época

como um vaso de
rosmaninho
abeto perfumado
em grãos de café
e um doce suave de manga
biológica
no teu colarinho

o silêncio
que se feche
na premonição da ausência
dos teus poros
suco
frutos da época

nem sempre são férteis
nem sempre são flores

mas sempre são
amor


(NAF)
10/12/11
na dúvida paro
não me mexo
os galhos quebrados entre as pálpebras
atravessam-se-me nas presas
quando me rio.levanto-me
ando mas o mundo não pára entre um ideal desfalecido
... nevoeiro.já não o vejo
só um sol longínquo
nasce dentro do meu coração
calado

(NAF)

retiro da lua

nas minhas unhas
o teu cheiro
meu ciúme

entre os favos
das línguas arejadas
o mel nosso
egoísmo

retiro da lua
é o abraço
nas quatro paredes
do céu

nas nossas bocas
a urgência

(NAF)
06/12/11

dezembro 07, 2011

puro sangue



como se nada houvesse
prendo-me ao ilusório aprendiz
que me arranha e dispensa
uma névoa de alguma folha murcha
que caia e embeleze
esta dúvida
como se nada entendesse
agarro-me à
capa de uma esperança invisível
vestida de penas nem sempre
leves
nem sempre seguras em minhas mãos
ásperas
como se nada engolisse
respiro o ar lembrando um cartucho
de balas envoltas num qualquer corpo agonizado
selado com a marca do desconhecido
como se nada rompesse
me agarro às pálpebras dos velhos
mexendo em suas rugas com meu oxigénio
respirando aguardando que um dia
seja esse o meu rosto
como se nada existisse
velho tronco de cave em submissão
ao puro sangue da vida


(NAF)
03/12/11

dezembro 01, 2011

falar é fácil quando as pálpebras poisam imitando o segredo vadio das gaivotas, disse-me que este seria o último sopro pelo seu sonho desvanecido o mesmo que havia feito um seguro de seriedade prisão perpétua do sorriso apagado.