Translate

março 27, 2013

além do óbvio


Há uma brecha
nessa gruta inconfessa
que é o teu coração

nesses minutos
que escorrem mudos
mastigo olhar
após olhar

e disponho as horas
como bolhas
de sabão,
pupila dilatada

Sonho-nos,
cultivando luares
nas estrelas coloridas
do nosso tecto

alto cúmplice

e impregno-me
dessa tua seiva que me escorre
nas veias

nada vejo
além do óbvio



(Naf)
25/03/2013




Bookmark and     Share

março 18, 2013

Gotas

ponto
por
ponto
vão
caindo
as palavras
gotejando
fluídas
nos teus lábios
como culto
de um perfume
contínuo
cadeirão declinado
nos ombros
sobre um rascunho
e outro
de
mim
mesma


(Naf)
21/06/11




Bookmark and     Share

março 08, 2013

Bálsamo



Nos teus olhos
o reflexo
dos oceanos

quando
nos meus cabelos
ladrilhas

a primavera

unge-se de ritmos
o fôlego
que desbrava

todas as
marés.


(Naf)
06-03-13








Bookmark and     Share

março 05, 2013

Guardar





Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que de um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.



(Antonio Cícero)



Bookmark and     Share