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julho 24, 2013

Aurora boreal



dá-me um colo onde possa adormecer nua
nesse lugar onde os lírios cantem
e te saibam sempre por perto

a gosto de aninho entre os teus dedos
e onde guardarás numa caixinha
o beijo repetido nas palavras

dá-me mãos inteiras que se multipliquem no tacto
e uma manhã e outra
de suor como se fosse dilúvio

e eu dar-te-ei um aconchego
do tamanho de uma casa.
e retirar-te-ei as asas fartas da solidão

Vamos! gastemos depressa o tempo, perca-mo-nos
que o mundo nos caia para dentro do silêncio
que lá fora a realidade é o nosso espaço, por inteiro.



Naf
(26/05/2013)


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maio 28, 2013

Dando olhos a beber















Primeiro foram as mãos
que me disseram que ali havia gente
de verdade

Depois fugi-te
pelo corpo acima
e medi-te na boca a intensidade

Atrevi-me a mergulhar
no teu cabelo e senti um arrepio
como se ambos parássemos o tempo

Percebemos num minuto
a vida inteira
sentindo nas veias um fogo em movimento

e desfolhamos as páginas
que o desejo nos abre.
Só dois perfeitos idiotas podem amar,

como nós amamos!

Entre amuos e teimosias
e essa saudade que nos impede
de respirar.



(Naf)
17/05/2013

maio 08, 2013

sossego



há palavras
que nos beijam
como se fosse nossa a noite.

dentro do sol
teus finos cabelos
descobri, e passos
inventados gerei
no caminho do sonho

aqui,
onde um grito surdo
nos incendeia dormem os ecos
de todas as despedidas.

há palavras
resgatadas dos silêncios,
aqueles que nos são voz.


Não minto à emoção,
o meu coração é regozijo.


e só me calo
quando adormeço
no teu ventre,
e vens directo à minha sede
de nós.


(Naf)
08/05/2013









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abril 25, 2013

o odor das nuvens



inútil
é o despertar
sem ti

e

sem as begónias
que tecemos
na língua

inútil
é a razão
sem asas
nem
o odor das nuvens
mais altas

da tua pele

a tua face
é o meu atalho
para o beijo

e
na tua boca
sacio
a minha sede

inútil
é o plano sem dorso
e a venda sem alma

e o medo e a dor
e
a rede que embaraça
todos os sonhos.


(Naf)
10/04/2013





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abril 04, 2013

A Ponte



Olhou ele
só,
do alto
de uma cruz

e em paixão
percorreram seus olhos
o mundo inteiro

rasgando todas as
sombras

disse-nos: toma
desembrulha esta
esperança.

Em forma de corpo

e seguindo em frente
(pela sua mão)
olhamos para
a eternidade
comum

alheios aos
espinhos


(Naf)
30/03/13








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março 27, 2013

além do óbvio


Há uma brecha
nessa gruta inconfessa
que é o teu coração

nesses minutos
que escorrem mudos
mastigo olhar
após olhar

e disponho as horas
como bolhas
de sabão,
pupila dilatada

Sonho-nos,
cultivando luares
nas estrelas coloridas
do nosso tecto

alto cúmplice

e impregno-me
dessa tua seiva que me escorre
nas veias

nada vejo
além do óbvio



(Naf)
25/03/2013




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março 18, 2013

Gotas

ponto
por
ponto
vão
caindo
as palavras
gotejando
fluídas
nos teus lábios
como culto
de um perfume
contínuo
cadeirão declinado
nos ombros
sobre um rascunho
e outro
de
mim
mesma


(Naf)
21/06/11




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março 08, 2013

Bálsamo



Nos teus olhos
o reflexo
dos oceanos

quando
nos meus cabelos
ladrilhas

a primavera

unge-se de ritmos
o fôlego
que desbrava

todas as
marés.


(Naf)
06-03-13








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março 05, 2013

Guardar





Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que de um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.



(Antonio Cícero)



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janeiro 07, 2013

brevidade



é tempo
de hastearmos a voz
em ondas
de tenra bravura

soprar à tela
cor forte, ecos enlaçados
E uma faúlha luzente

que não se extingue

trilho de angras
e ermidas brancas. e
essa tua fragrância que segrega
os sonhos.


(Naf)
19- 12- 12

(Imagens: Alberto Seveso)



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